É noite de sábado – eu
acho que todas as pessoas com famílias normais pedem pizza e são felizes aos
sábados.
A minha rua está vazia, choveu praticamente a tarde toda. Fico em paz quando chove.
A quietude da noite só
me faz lembrar e sentir que sou a garota mais solitária da minha cidade. Ontem,
por exemplo, estava com o Cristhian, hoje é silêncio e ausência – nada
permanece, perdura – tudo é fulgás.
Conheci o Cristhian há
dois anos numa festa, logo que terminou os estudos em Oxford; eu era a única que destoava do público alternativo daquele
lugar com minha blusa de seda rosa. Ele gosta de Friedrich Nietzsche na mesma intensidade e admiração que
gosto do escritor Caio Fernando Abreu; e quando ele tira a camisa, somente com
a luz do computador iluminando a penumbra, posso ver a palavra " Zaratustra " tatuada
em seu peito - é um êxtase intelectual e físico.
E lembro que meu
ex-namorado deixava o livro “Assim falou Zaratustra” no seu criado-mudo.
Enquanto escrevo, vejo a
cortina branca bailando com o vento que chega com a madrugada.
Silêncio e corpos,
L.