sábado, 5 de dezembro de 2015

Lacunas

Ao ler sobre o falecimento de Marília Pêra, lembrei que interpretou Coco Chanel no teatro com o texto da Maria Adelaide Amaral, cujo livro do monólogo dormiu ao meu lado com outro livro, só que de ficção.
Eu ficava e fico relendo as falas e pensando como Marília interpretava, as nuances, os silêncios, o entendimento do texto e a complexidade de Coco Chanel.
Um grande talento foi embora e me deixa triste. Mas também fico triste porque poucos talentos surgem para suprir as lacunas que essas grandes atrizes deixam.
Eu gosto dessa gente que vem do teatro, do palco, dos ensaios exaustivos, do ódio que sentem do diretor, do amor que sentem pelo diretor, do estudo, da entrega. Vejo pouco, vejo quase nada. O que vejo são pessoas pisando no palco sem leveza ( sim, precisa ter leveza ao pisar no sagrado ), o que vejo não me agrada, o que vejo não é teatro e nunca será.
Vi poucos atrizes e atores em cena com o subtexto martelando em sua emoção controlada; mas também vi consciência da totalidade da peça num olhar fixo, vi composição de personagem e muita desconstrução para colocar-se diante de uma platéia com todo o respeito que merecem.
Fernanda Montenegro disse numa entrevista que existem artistas, mas atores são poucos.
Eu que amo o drama, amava ver Marília em Pé na Cova. Sim, eu gosto da redação final do Miguel.
Sentirei saudades.



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