terça-feira, 7 de março de 2017

O pé de manjericão

Era fim de tarde e a chuva desabava sobre o pé de manjericão tão frágil, por alguns instantes a lembrança da infância parecia um lugar seguro, existia uma força no meu olhar ao admirar o céu cinza, pensava no mistério e imensidão do planeta, as galáxias, vidas – seria muita prepotência da nossa parte achar que estamos sozinhos.
Desassociar da realidade era extremamente fácil para mim; eu olhava para uma amiga da minha mãe que sempre esmaltava as unhas com uma cor rosa retrô e ficava imaginando os jantares que ela dizia que frequentava todos os sábados, depois ocorria uma imagem de uma família feliz esperando a pizza chegar; e até hoje eu acredito que essa família come pizza e sorri em algum lugar da minha mente - sempre que estou em casa como pizza aos sábados, a risada da amiga da minha mãe permanece viva porque eu olhava para as pessoas e imaginava os lugares que elas comentavam – os jantares refinados, suas casas, a televisão ligada numa tarde qualquer em que a paz imperava.
Achava também que todas as casas deveriam ter uma escada iguais as que aparecem na teledramaturgia, assistia à novela Vamp com os olhos vidrados porque aquela atmosfera era confortável de alguma forma que não sei explicar, os filmes do Indiana Jones também eram um portal, muitas vezes quando o filme acabava meu desejo era que um dia encontrasse uma passagem secreta para a aventura começar.
O pé de manjericão é da minha mãe, e ele tem resistido ao sol e chuva, assim como nós; às vezes murchando um pouco como se nunca mais fôssemos nos erguer novamente e depois de um tempo começamos a reagir para a vida – não existe só o belo, a força, o estável; tudo está em movimento como as nuvens no céu, a terra em rotação e translação.
Os seres humanos como personagens e plateia uns dos outros deslumbrados com as luzes do espetáculo sem saber que nenhum de nós está direção, esse é o mistério.



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